quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Desertos

DESERTOS

Estava eu outro dia assistindo a um desses filmes que passa zilhões de vezes na televisão um dia em cada canal. As cenas principais transcorriam em um deserto. Filme bonzinho até. Passado o filme fui pro computador (alguém diria: é.. pois é...). Abri a pasta “músicas nacionais” e deixei rodar em ordem aleatória, como sempre faço. Eis a primeira música a tocar: Catedral de Zélia Duncan.
Lembram o começo da música? “No deserto que atravessei”.
Com o calor que faz em Palmas larguei uma das minhas ironias: “pelo menos o meu deserto tem água e vegetação”. Mas o assunto deserto não saiu de minha cabeça e, obstinado e ocioso que sou, me pus a pesquisar o assunto.
Os desertos crescem a uma média de 60km² no mundo inteiro. Isso significa mais do que a área do Estado do Rio de Janeiro (cerca de 43.900km²) se tornando deserto a cada ano.
Além disso, somente na África, onde se encontram as maiores áreas desertificadas do Planeta, 32 milhões de pessoas são atingidas por esse fenômeno. Se somarmos as seguintes populações:
RS + SC + PR + MS + GO + TO = 32.912.334
(observando uma estimativa para o ano 2000 – ok, estou defasado, mas é o que eu tenho aqui para pesquisar).
Ou seja, de acordo com esses números, todos, TODOS os gaúchos, catarinenses, paranaenses, sul-mato-grossenses, goianos e tocantinenses alcançaremos um número aproximado de pessoas atingidas pelos desertos somente na África.
É... esse texto deu o que pesquisar (risos). Bendito tempo ocioso!!!
Apesar dos números elevados, o que me assusta mesmo é o deserto que existe dentro de cada um de nós. O deserto das relações humanas aumenta em um ritmo muito maior do que esses números.
Eu continuo sem internet (ainda bem), não saí de casa, tudo o que eu precisava eu pedi pelo telefone, e o dia todo conversei com 8 pessoas. Dessas, a única pessoa que eu olhei nos olhos para conversar foi com o entregador da pizza que eu jantei (e mesmo assim o diálogo foi: Eu: - obrigado! Ele: - Aqui está o teu troco!). As demais conversas foram mensagens no celular ou ligações.
Aí fico pensando nas possibilidades, se eu tivesse internet certamente esse número teria no mínimo dobrado, mas eu continuaria falando pessoalmente apenas com o entregador da pizza.
É ou não um deserto?
Ok... Temos que considerar o fato de eu estar de férias, não conversando nem com meus colegas de trabalho e morando sozinho, o que limita (e muito) as minhas relações sociais.
Mas isso só acontece comigo? Se a resposta for SIM, acho que sou anti-sociável. Mas convenhamos, as relações humanas estão em processo de desertificação.
E eu percebo que não estou tão errado quando ouço outra música aqui, Terra de Gigantes dos Engenheiros:
“Mas agora lá fora todo mundo é uma ilha, há milhas, e milhas, e milhas de qualquer lugar. Nessa terra de gigantes, eu sei já ouvimos tudo isso antes”.
Esse deserto sim, me assusta. O deserto da solidão, do desamor, da indiferença, do abandono e da insignificância do próximo.
Evitar o crescimento desse deserto requer medidas bem mais baratas e eficazes: compreensão, solidariedade e afeto!
Fácil, não?

2 comentários:

Julí disse...

Eitaa...
Sempre me emocionando heim?
Às vezes nós seguimos nossa estrada sem perceber que estamos cultivando desertos dentro de nós... E esses desertos se tornam cada vez mais irreversíveis.
Tudo o que precisamos é aprender a libertar a criança que existe no recôndito de nossas almas, e assim poderíamos perceber que a felicidade não está na opulência de um mundo capitalista, mas na pura simplicidade do dia-a-dia.
Abração!

Unknown disse...

Adorei..O pia de TALENTO ESSE!
Admiro Viu!