terça-feira, 5 de maio de 2009

Cicatrizes

Hoje passei um bom tempo em frente ao espelho.
Longe de mim ser narcisista. Quem sabe um pouco vaidoso, mas narcisista, isso não!
Fato é que uma cicatriz que carrego comigo chamou minha atenção. Não que eu não tivesse notado antes, mas hoje ela me fez pensar.
Fiquei um bom tempo olhando aquela marca adquirida em uma das muitas peraltices da infância.
Cá entre nós, não é engraçado como uma aparente insignificante marca física pode carregar emoções?
Nesse meu caso, as emoções são traduzidas nas lembranças de uma infância travessa e levada, coisas de criança; uma marca por não atender ao chamado de minha mãe, como um sinal permanente de desobediência.
Essas cicatrizes físicas, apesar de marcarem pra sempre, não doem. No entanto, existe outro tipo de cicatriz que dói, fere e machuca: são as cicatrizes da alma.
São marcas de ressentimentos, rusgas, atritos, desencontros, amores perdidos, de pessoas que já partiram e que não tivemos a oportunidade de dizer o quanto eram especiais, o quanto as amávamos ou até mesmo pedir perdão. São marcas de um passado ferido ou de um presente que ainda machuca.
Tais quais as cicatrizes físicas, resultados de algum ferimento, as cicatrizes da alma também podem ser vistas - não aos nossos olhos, mas à nossa percepção - em um comportamento agressivo, arredio, omisso, apático, piedoso ou indiferente ao extremo.
Ninguém consegue permanecer alheio às suas cicatrizes ou às suas marcas. Se prestarmos atenção aos detalhes, em algum momento elas surgirão - em um comentário saudosista ou em uma atitude extremada (seja consigo mesmo ou com outras pessoas).
Mas... quem não tem uma lembrança que machuca? Um arrependimento ou uma oportunidade que foi perdida?
Diz a sabedoria chinesa em um de seus provérbios que "há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida".
Assim, nossas cicatrizes podem surgir pelas nossas atitudes (o que fazemos - cuidado ao atirar uma flecha); pelas nossas palavras (cuidado com o que você fala); ou pelas oportunidades perdidas (cuidado com o que você deixa de fazer).
Carrego comigo uma certeza: dessa vida só se leva a vida que se levou!
Pois não quero ser lembrado pelos meus erros, tampouco pelas minhas omissões.
Eu sei que essa vida é a única oportunidade que eu tenho para sarar certas feridas e eliminar as minhas cicatrizes. Fazendo coro com Cazuza, eu também sei que "o tempo não para".
Por isso minha cicatriz gritou para mim:

- Mike! Viva antes que seja tarde!

Um comentário:

Anônimo disse...

Tocou minha alma mike!
Obrigada