quarta-feira, 10 de março de 2010

A bússola quebrada

Estou antecipando a publicação do jornal "Laboratório" da UFT, onde estará esse texto. Saiu como prova final da disciplina de Filosofia. Escrevi enquanto fumava no corredor (com permissão da professora - apenas para estar no corredor, mas enfim...) rsrsrs


O último dos sujeitos modernos, seja quem tenha sido, quebrou a bússola que orientava a humanidade. Acidentalmente ou não, aquele sujeito, tal qual Pandora e sua caixa, inadvertidamente, obriga a humanidade a iniciar uma nova fase imersa em crises. Sim, crises no plural: crise de identidade, crise política, crise econômica, crise social, crise cultural, crise valorativa, crise ecológica...
Os sujeitos pós-modernos agora discutem para onde a bússola quebrada aponta. Alguns acreditam que seja para o Leste, outros afirmam ser para o Oeste, embora eu ainda prefira acreditar que seja para o Sul.
A discussão sobre onde está o norte, se para o Leste, Oeste ou ainda para o Sul, revela uma das faces da crise nas ideologias e da alienação a que a humanidade sem rumo foi submetida.
Se “ideologia” é o corpo social, a atual conjuntura pós-moderna revela uma sociedade deformada: muitos olhos, com diferentes olhares; muitos pés, com diferentes rumos; muitas cabeças, com diferentes pensamentos.
O paradigma que se põe é definir onde está a alienação: tudo pode ser alienação, bem como nada pode ser.
Não há, pois, a lógica religiosa que unifica (massifica) o pensamento, a opinião, os costumes e hábitos. Mas há a lógica do capital: do TER, ou parecer ter, em detrimento ao SER.
Nessa caminhada da humanidade, a individualidade dos sujeitos é o ponto de referência. Tudo é relativo... tudo é uma questão de ponto de vista. Se, por um lado, não há regras ou normas impostas como nas fases anteriores, a ilusão da liberdade nas pseudo-democracias atuais é a própria alienação travestida.
O discurso corrente, de que os Meios de Comunicação alienam bate de frente com o paradigma pós-moderno de emancipação crítica dos sujeitos. Onde está a capacidade do sujeito em responder de forma crítica e consciente às influências tanto dos Meios de Comunicação de Massa como da própria lógica do capital?
A Modernidade deixou como legado uma crise nas ideologias; isso não significa necessariamente algo ruim. Pelo contrário, a crise nas ideologias coloca em colapso a “consciência de rebanho” – necessária para que uma ideologia se afirme. Mas, para que essa crise se configure como algo realmente positivo, é necessário que o ser humano, enquanto sujeito de sua própria história, tenha maturidade e consciência crítica suficiente para não cair na alienação, tornando-se subserviente de sua própria liberdade, sob a égide do capital: ter, sem ser!
Para que a humanidade tome um rumo diferente depois de nós, alguém terá que consertar a bússola, embora isso de rumo coletivo soe como alienação.
Interessante seria se cada indivíduo tivesse competência e consciência em reconhecer que o norte, enquanto rumo, não é um lugar geográfico a ser buscado, mas a trajetória que se constrói a cada dia.
Quiçá pudéssemos deixar essa ideia para a posteridade, mas aí estaríamos deixando outra ideologia como herança... Complicado, não?

3 comentários:

Hudson disse...

Muito legal o texto.
Achei bem interessante! O caminho é algo que cada um tem que descobrir o seu, independente de costumes, cultura e politica que se segue, apesar que hj isso é quase impossivel. Não á como hj viver sem algumas regras impostas pela sociedade. O que é uma pena...

Parabéns

Mr. Thinker disse...

Fantástico o texto, Mike! Confesso estar absorto com alguns parágrafos que li...
Mais uma vez, Parabéns!

rafael pimentel disse...

otimo texto :)
parabens