Por que é difícil ser feliz?

Por que é tão difícil ser feliz? O que representa essa felicidade tão almejada pelo ser humano?

Para ajudar (ou piorar) essa reflexão, pense no seguinte:

Como você seria se não houvesse mais ninguém no mundo? Quem você seria se a única opinião que importasse fosse a sua?

Se você realmente quer ser feliz, você tem que ser essa pessoa. Você deve procurar dentro de si o que é unicamente você. Quando encontrar, dê-lhe polimento até que se torne o seu estilo.

Passamos uma vida inteira em busca do segredo da felicidade. Moldamos nosso “ser” a partir de modelos que nos são postos. Copiamos e reproduzimos padrões de beleza e comportamento. Usamos roupas que estão na moda. Tudo o que não se encaixa nesses padrões é vulgar, ultrapassado e desatualizado.

Consideramos essa cópia como autêntica, quando na verdade não existe nada de autenticidade nisso.

E se não houvesse mais ninguém a ditar regras, sugerir modelos, padrões e estilos? O que você seria? Ou melhor, QUEM você seria?

Ter um estilo próprio no atual cenário parece algo impossível, inimaginável, certamente. Isso implicaria em não depender da opinião dos outros, num cenário em que a única coisa que realmente importa é a opinião dos outros.

Nos apegamos demasiadamente a tudo o que as outras pessoas pensam a nosso respeito. Dependemos exclusivamente do estilo, do gosto, da opinião e principalmente dos padrões impostos por outras pessoas.

Eu nem falo do mercado da moda. Não preciso ir tão além. Falo do cotidiano, da individualidade que não existe.

Por que eu não posso ir pra televisão todos os dias com camisetas coloridas, por exemplo?

Definir um estilo próprio baseados apenas em nossa opinião é a chave da felicidade. Mas relutamos em manter essa porta fechada. Insistimos em seguir padrões que nem sempre são nossos, por conveniência, casualidade ou modismo mesmo.

Ser o que seríamos se não houvesse mais ninguém no planeta é algo que existe apenas no campo da suposição. Ser quem poderíamos ser, se a única opinião que contasse fosse a nossa, é algo que não existe na prática. Não conseguimos ser essa pessoa no dia-a-dia. Isso não é pessimismo.

Não acredito em personalidade verdadeiramente autêntica. Cada um de nós traz uma carga de comportamentos e padrões relativizados e aceitos socialmente (quando não impostos). Até acredito que algumas pessoas conseguem ter uma personalidade única ocasionalmente. Mas não o tempo todo.

Dessa forma, a humanidade persegue ambiciosamente a meta da felicidade sem sucesso. É fácil teorizar, discutir isso no campo das ideias. Difícil é colocar em prática no dia-a-dia.

Quebrar as regras da conveniência, da moralidade e dos padrões estabelecidos pode trazer alguns momentos do que chamamos de felicidade. Mas, como essa felicidade não é definitiva e como não nos desvencilhamos da opinião dos outros, normalmente essa quebra de padrões é sucedida por um arrependimento. O mesmo acontece quando somos autênticos em nossas opiniões. Temos receio de expressar nosso pensamento. Medo de não concordar com o socialmente aceito. Esse medo da originalidade nos bloqueia em todos os sentidos.

Por mais difícil que seja, a felicidade anda de mãos dadas com a autenticidade e com a originalidade. Por isso a resposta para a pergunta inicial é simples: é difícil ser feliz porque é difícil sermos nós mesmos o tempo todo...

Moda é o que você adota quando você não sabe quem você é! (Quentin Crisp)