Hoje conversava com um dos ex-cinegrafistas, na verdade apenas ouvi perplexo o desabafo dele.
Fazia algum tempo que não o encontrava, mesmo trabalhando na mesma instituição.
Não sei se ele me autoriza publicar a história dele, mas fato é que fiquei revoltado com a situação. Sou padrinho de casamento do Joanilson e da Jéssica e no final do ano passado, quando saí do estúdio, ele me contou todo feliz que a esposa estava grávida.
Para minha surpresa, no começo do ano ela teve um aborto. Fiquei triste por eles que tanto esperavam essa criança. No entanto, o que me revoltou foi o descaso com que ela foi tratada no hospital.
A começar pela demora no atendimento. Mesmo com hemorragia e muitas dores, só depois de certo tempo foi atendida. Após analisar a barriga, uma das enfermeiras olhou para a Jéssica e apenas disse: "Não tem mais nada aqui, o bebê 'tá' morto, vou fazer os procedimentos. Espera aí!" E saiu.
Sem poder ver o bebê, Jéssica teve alta e foi quase "expulsa" do hospital.
Para os profissionais de saúde, esse pode ser apenas mais um caso dentre os muitos que aparecem todos os dias de mães que abortam. Mais um feto a ser "despachado".
O que aquela enfermeira pode não ter se dado conta é que aquilo, que para ela se tratava apenas de mais um feto, para o casal era um filho, um bebê, a realização de um sonho.. de um projeto de vida.
Sem saber o "destino" do filho, a jovem mãe entrou em desespero (pra não dizer depressão). Na verdade se imagina o destino de um feto num hospital, mas é possível imaginar o sentimento de uma mãe pensando no seu filho sendo tratado como lixo hospitalar? Se eu que sou 'apenas' um amigo do casal estou revoltado e com náuseas ao imaginar o descaso, não consigo mensurar a dor do casal.
A dor do sonho desfeito se torna ainda maior diante do descaso desses profissionais.
Ora, quem procura um hospital não entra com a intenção de fazer uma festa. São pessoas que de alguma forma já estão fragilizadas abatidas, doentes ou emocionalmente abaladas. Cabe a quem atende essas pessoas tratá-las, no mínimo, com dignidade para, de alguma forma, amenizar essa dor.
Infelizmente não é o que se vê por aí.
Por favor, não estou generalizando e não estou querendo dizer que todas as enfermeiras, ou todos os profissionais de saúde agem com o mesmo descaso. Mesmo porque todas as vezes em que fui atendido em um hospital fui muito bem atendido. Mas nunca entrei emocionalmente abalado. No máximo fraco, cansado ou doente de alguma forma.
Também não estou criticando sistemas de saúde ou instituições, de forma alguma. Apenas fiquei revoltado com essa situação por estar próximo ao casal. Por ter acompanhado os sorrisos e a euforia dos dois quando souberam da gravidez. Os sonhos... os planos... a euforia... desfeita por um acidente, que se tornou trauma diante do descaso.

É possível, por um instante apenas, nos colocarmos no lugar da outra pessoa e imaginarmos os seus sentimentos?
Essa é uma pergunta que não cabe apenas aos profissionais de saúde, mas a cada um de nós. A esses profissionais se torna mais significativa por lidarem com pessoas que de alguma forma já estão abaladas emocionalmente. Mas é uma pergunta que pode [E DEVE] ser feita por cada um de nós - a nós mesmos.
Talvez se todos conseguissem se colocar no lugar do outro, entender um pouco os sentimentos das outras pessoas certamente o mundo seria um lugar melhor... quem sabe um pouco mais humano!!
É possível pelo menos sonhar com esse mundo? Você pode dizer que sou um sonhador, mas eu não sou o único (John Lennon).
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