quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sobre Diferenças

Nesse semestre tive a oportunidade de ministrar a disciplina de Educação Especial para uma turma do curso de Pedagogia. Como já trabalho a disciplina de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), acabei aceitando o desafio. Confesso que foi gratificante. Discussões de alto nível sobre inclusão, alunos com deficiência, o papel da educação e da sociedade inclusivas, valorização das diferenças, entre tantos outros temas.
Em função das minhas limitações, o tema "valorização das diferenças" ainda me fascina. Não consigo entender como ou por quais motivos as diferenças nos assustam tanto...
Ora, diferença é o que existe. A igualdade é inventada. Por que diabos as pessoas insistem em rotular, imaginando que todos sejam iguais. Aliás, tenho problemas, também, com essas campanhas que fazem de tudo para provar que "somos todos iguais". NÃO SOMOS!!!!
Estamos presos a esse conceito e essa suposta igualdade e isso nos faz refutar e rejeitar tudo o que seja diferente, ignorando que, mesmo entre esses supostos iguais, existem diferenças notáveis.
A individualidade de cada pessoa precisa ser respeitada. É tão difícil entender isso? Temos nossas próprias necessidades, nossos próprios gostos, crenças, nossos hábitos, nossas particularidades, nossas ansiedades, nossos receios, nossos medos, nossas coragens, pensamos, agimos e reagimos de formas diferentes. Até mesmo nosso modo de falar (comunicar) é diferente. Cada qual à sua maneira, seu ritmo, seu tempo.
Não é preconceito reconhecer que somos diferentes. Preconceito é ignorar essas diferenças e partir para uma igualdade que não existe. Preconceito é definir um padrão e não considerar o que possa fugir dessa "normalidade".
A única coisa que temos em comum é o fato de sermos seres humanos. Alguns não conseguem se locomover, outros não enxergam, outros ainda não ouvem e alguns demoram mais para aprender. Além disso, alguns têm olhos claros, enquanto outros têm olhos escuros. A cor da pele também é diferente. Essas caracteristicas não nos tornam melhores nem piores que os demais. No entanto, não podem ser ignoradas, como se não existissem. São condições que precisam ser reconhecidas e respeitadas.
Aliás, respeito, tolerância, compreensão, aceitação... são palavras paradoxalmente carregadas de uma simplicidade e ao mesmo tempo de uma complexidade tamanha. Deficiências de hoje. Carências de uma sociedade egoísta que insiste em estabelecer um padrão de normalidade em que a imensa maioria não se encaixa.
O grande estigma da atualidade não é mais a deficiência física, que embora possa limitar de alguma forma o indivíduo, é uma barreira que já foi superada. O grande dilema atual é permitir que cada ser humano viva a sua vida, de uma maneira individual e autônoma, de uma maneira espontânea, da forma que lhe convir.
No dia em que cor de pele, gênero e orientação sexual, crença, condição física e todas as demais particularidades e especificidades de cada ser humano forem reconhecidas e respeitadas, aí sim poderemos dizer que somos uma sociedade evoluída. Enquanto insistirem em rotular, padronizar e "normalizar" (ou normatizar) as pessoas, o mundo continuará sendo um lugar perverso e injusto. Não um lar que acolhe, mas que exclui e oprime da maneira mais cruel que existe: através da imposição de padrões físicos, morais, sociais, religiosos e culturais.
Enquanto isso, quero continuar sendo diferente. Podem me chamar de maluco, talvez até de estranho. Mas não me chamem de igual ou de normal, pelo menos não enquanto não me provarem o que de fato significa ser igual ou ser normal.

Nenhum comentário: