sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A estranha sala cheia "vazia"

Levantei a cabeça por um instante quando Cazuza parou de cantar nos meus ouvidos. Curiosamente contei doze cabeças – doze pessoas ao meu redor. Todos os computadores estavam ocupados. No meio de tanta gente, a letra de Cazuza gritou: “Meu mundo que você não vê, meu sonho que você não crê!”
E, de repente, a sala cheia se tornou estranhamente uma sala vazia. Lembrei do meu professor de oratória, quando, certa vez, para desinibir alunos tímidos tendo que discursar, disse que deveríamos fazer de conta que as cabeças na plateia fossem cabeças de repolhos.
E naquele momento me vi diante de uma plantação de repolhos: uma dúzia de repolhos!

Embora cercado de cabeças, aquelas pessoas não passavam de conhecidos que na verdade sequer me conhecem, verdadeiros estranhos. Fiquei imaginando se a colega à direita saberia que meu prato preferido é lasanha. Creio que não!
À minha esquerda a colega que todo dia vinha com as mesmas frases feitas, dando bronca por causa do cigarro. Saberia ela quando e por qual motivo comecei a fumar? Ou quem me ofereceu o primeiro cigarro? Certamente que não!
O outro que falava algo que eu não escutava, embora estivesse demonstrando atenção com um “sorriso amarelo”, saberia quantos graus tem os meus óculos? Duvido!!
Bom, atrás de mim estava a coordenadora, mas essa sequer sabe se meu nome se escreve com K, Q ou CK.
Enfim, a estranha sala cheia vazia é o meu mundo duas tardes por semana. Mas é um mundo que ninguém conhece. Ninguém na sala acredita nos meus sonhos. Aliás, nem sabem quais são os meus sonhos.
Na verdade eu não os culpo por isso. Afinal, eu também não faço parte do mundo deles. Não conheço nada a respeito deles. Nada muito além do fato de serem casados ou solteiros, terem filhos ou não, essas trivialidades.
A grande sala é o encontro de mundos paralelos que obrigatoriamente se fundem construindo um novo universo: novo e desconhecido pelos próprios habitantes.
Cada um naquela sala tem as suas funções específicas, os seus afazeres e as suas preocupações. Algumas angústias são partilhadas, outras, conscientemente devem ser mantidas ocultas, secretas.
Ao contrário do que essas palavras possam representar, não estou em um momento de depressão ou algo parecido. Apenas me dei conta de que o meu mundo é uma enorme colcha de retalhos.
A sala dos “repolhos” foi o cair da ficha: meu mundo é a soma de pequenos fragmentos. De manhã a sala de aula com meus colegas, a tarde o trabalho, algumas noites o estúdio, eventualmente uma companhia para um barzinho ou dividir a cama.
Talvez eu nunca tenha dado liberdade para essas pessoas “invadirem” o meu mundo. O “talvez”, nesse caso, é uma forma sutil de gerar uma aparente dúvida sobre uma certeza: eu sou fechado em mim mesmo. Apesar desse jeito um pouco (MUITO???) irreverente, de moleque, apesar dos sorrisos ou das gargalhadas... Apesar de terem a minha ficha completa, ninguém, absolutamente ninguém nesse universo construído, de fato me conhece. E a culpa é minha (culpa?? Não me sinto culpado por isso!!!!)
A sala cheia continua parecendo vazia! Eu continuo apenas observando, distraído com meus fones e a música alta,
aproveitando todos os bons momentos que esses mundos me oferecem, imaginando qual será a cor do próximo retalho a se encaixar nessa imensa colcha.

3 comentários:

Anônimo disse...

Também gosto de lasanha, mas ao repolho prefiro a couve-flor.
adorei!

Unknown disse...

Mike, engraçado pq passo por momentos parecidos. Olho pras pessoas e me pergunto? Qual sera o problemas q elas estão enfrentando em casa, no trabalho e com a familia?
Mas parece q a grande maioria das pessoas não se importam com o que o outro ta passando ou enfrentando, simplesmente são egoista, vazias e adoram viver nos seus mundinhos, ou sejam parecem cabeças de repolhos, esperando so seus proprios adubos e o resto q se dane....
Louvo a Deus todos os dias pq em meio aos meus problemas, sei q tem Um Deus q pensa e cuida de mim, e me ouve tbem qdo intercedo por meus amigos. Te gosto muito amigo e vc não passa batido por mim, viu??? Sempre lembro e peço a Deus por vc e Ha!!! eu sei como se escreve seu nome, viu????
BJssss

Mike disse...

ashuashuashuahsuashuahsua...

Juju:Não gosto de verduras de nenhuma espécie!!!

Airene: aprendeu a escrever meu nome!!! uhulllll
ashaushauhsua

Vcs duas são mto especiais pra mim!!!
Bjão