quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Cazuza

Circula pela internet o texto de uma psicóloga, Karla Christine, falando absurdos sobre Cazuza com conclusões tiradas depois que a digníssima "doutora" assistiu o filme. Por acaso do destino o referido e-mail acaba parando na minha caixa. "Coitada!!" Foi a única conclusão que consegui chegar em uma leitura prévia. Fiquei pasmo com a ignorância da nobre (ou pobre??) psicóloga e suas conclusões que beiram o ridículo.Em primeiro lugar, e essa é uma consideração que qualquer pessoa chega com facilidade, quando assistimos qualquer tipo de filme não significa necessariamente que copiaremos os estereótipos nele apresentados. Assim, o filme "Cazuza" não é um roteiro de conduta, não traz nenhum guia prático da vida moderna e não pressupõe que quem assiste deva fazer exatamente o que Cazuza fez.Como disse um amigo, "o objetivo do filme é apenas retratar a vida dele, e eu vejo o filme, como um alerta , não como um sinônimo de 'carpe diem'".Me questiono se por acaso a psicóloga Karla, do alto da sua inteligência de grão de mostarda, assiste um filme apenas para copiar o que as personagens fazem e adaptar o roteiro à sua própria vida?
Em seu texto, Karla Christine afirma que as "suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado".
Confesso que gostaria de conhecer os conceitos que a ilustre defende. Devemos banir os milhões de brasileiros que continuam vivendo à margem da sociedade no Brasil? Aliás... a qual sociedade ela se refere?? Qual dos contextos, dos diferentes Brasis, a psicóloga faz referência?? Se for do seu mundinho fechado, pode até fazer sentido.
Deve ser cômodo e fácil para a construtora dessa pseudo sociedade brasileira deixar seus filhos na escola (se tiver filhos) ou sair de casa em seu carro, ligar o som - um sertanejo ou pagode, presumo - e chegar à sua clínica, atender seus poucos pacientes atordoados, neuróticos e esquizofrênicos e ao final do dia voltar ao carro (o mesmo cd da banda D'Javú ou Bruno e Marrone rodando na faixa 07 e ela acompanha cantando a letra), pegar os filhos na escola, chegar em casa e ligar a tv na novela enquanto os filhos vão para o playstation ou para o CS (outro desses jogos modernos).
Diz ainda: "No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta. São esses pais que devemos ter como exemplo?"
Mais uma vez, querida psicóloga, o fato de Cazuza ter sido mimado, filhinho de papai ou as atitudes dos seus pais não desabonam sua trajetória. Ninguém admira Cazuza pelo comportamento dos seus pais, nem por sua vida pessoal... o que se admira num cantor são as músicas.. meio óbvio isso!!!
Me rachou a cara a psicóloga dizer que "Cazuza só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora. Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante."
Isso torna Cazuza um marginal??? A culpa do anonimato de outros tantos e o sucesso do Cazuza tem alguma relação? Se as músicas dele não fossem boas, não fariam sucesso, fosse filho de quem fosse.
Admira-me uma psicóloga questionar Cazuza e não se posicionar sobre a apologia à traição e alcoolismo presentes nas músicas sertanejas. Ou à putaria do funk. A apologia ao sexo do axé com suas bailarinas e dançarinos praticamente nus.
Enfim...
Posso dizer porque eu admiro Cazuza:
1º Por suas letras com conteúdo, marcando exatamente o contexto que o Brasil vivia: o começo de uma abertura política, social, cultural;
2º Pelo fato de colocar em evidência a questão do HIV / AIDS, tida até então como doença de bichinha pobre;
3º Pela autenticidade de suas músicas e sua personalidade;
4º Por marcar uma época, fazer uma geração pensar nas questões sociais e políticas do país...
Entre tantos outros motivos.
Veja bem, o Brasil carece de pessoas como Cazuza. O que se vê na geração atual?
De um lado temos um grupo de Nerds, apenas com cérebro, mas com cara de ratinhos brancos, que ao se depararem com uma vagina ficam vermelhos sem saber o que fazer.
De outro lado um grupo de narcisitas e bombados, sem cérebro, preocupados em manter uma aparência no culto à beleza (que nem é tão bela).
E por fim, um grupo de seres humanos que serve apenas como reprotudores. Os responsáveis por manterem a especie. Para nada mais servem a não ser para a procriação.
Com algumas exceções, esse é o tipo de pessoas que nossa sociedade cultua hoje: nerds, narcisitas/bombados e procriadores.

Ahhhh.... como seria bom se o Brasil tivesse mais Cazuzas e menos psicólogos nos dias atuais!!!!!

Um comentário:

Naiara Nunes disse...

Adorei o post, muito bom mesmo. Amo Cazuza! *-*