segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ausência

Como você reagiria à morte de um dos seus melhores amigos?
No começo desse ano enfrentei essa situação pela segunda vez. Isso sempre machuca. Não é algo que a experiência ensina a lidar.
Dessa vez recebi a notícia bem no meio das minhas férias.
“Tenho uma notícia desagradável pra vc... qdo puder me liga. Abraços!”
Ao ler esse recado em meu Orkut meu coração acelerou, acompanhando o frio que passou por minha coluna. Imediatamente peguei o celular e retornei.
A voz de um amigo apenas conseguiu dizer: lembra do Fábio, de Colinas? Teve morte cerebral hoje, ainda está com os aparelhos ligados, mas em breve vão desligar.
- Mike... Mike??? Você está aí?
Eu não consegui responder de imediato. Como acreditar nisso?
Como me conformar com a notícia da perda de um dos meus poucos verdadeiros amigos?
Como encarar isso pela segunda vez?
De imediato lembrei de Renato Russo. Entendo o que pode ter sentido ao escrever a música “Os bons morrem jovens”.
O time do lado de lá está ficando cada vez mais forte, enquanto fica a saudade do lado de cá.
Não basta o caos em que o Planeta se encontra: o aquecimento global, as mudanças climáticas, as tragédias como o terremoto no Haiti e as enchentes no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, a corrupção na política brasileira (por que não mundial?), terrorismo, fome, miséria, morte... como se não fosse suficiente, estão retirando as pessoas boas aqui da terra.
Incrível que sempre tem um babaca para dizer: ”Deus quis assim” ou, “Foi a vontade de Deus”. Ora, saber que foi a vontade de Deus, a ordem natural do cosmos, que estava traçado no destino ou qualquer outra explicação não afasta a dor da ausência. Não é uma explicação que tenha ou faça sentido pra mim.
Aliás, a própria morte não faz sentido. Não tem como me conformar. A morte sempre separa, distancia e afasta pessoas que são queridas, e isso nos entristece.
Não estou revoltado com Deus, com o cosmos, com o destino ou com qualquer outra força ou energia sobrenatural. Entendo que tudo e todos têm um tempo, um momento, um propósito. Um começo e um fim. Sei que mais cedo ou mais tarde todos nós deixaremos essa nave chamada Terra. Essa é a ordem natural.
Mas não consigo reagir com um:
- “Oh, que legal... o Fábio morreu e está num lugar melhor!”
Quem voltou pra dizer se de fato é melhor?
É claro que tudo isso fica no campo da esperança e da crença. E aí entra a liberdade de opinião e de acreditar de cada um. E isso não se discute com ninguém. Ou se acredita ou não.
O tempo, como sempre, é o melhor remédio. Com o passar dos dias a gente acaba se acostumando com a ausência. Não no sentido de se conformar, mas de aprender a conviver sem esse alguém tão importante até então.
Talvez por isso eu goste de morar longe, de sair; quando eu for pro outro lado, alguém poderá sugerir que eu esteja viajando. As pessoas próximas a mim já estão acostumadas com a minha ausência. Estou em constante movimento: do Sul ao Tocantins e por aí afora. Não será difícil imaginar que eu esteja mais uma vez viajando (e de fato estarei, mas só com passagem de ida dessa vez!!!)

5 comentários:

IrRitantemente disse...

O Texto está incrível!!!

rafael pimentel disse...

nao fique triste
bjoss♥

Mister Thinker disse...

Que chato Mike... :-(
Fique na Boa!

Raiane Kelly disse...

gostei muito do texto e do modo que comparem a sua partida como viagem sem a passagem de volta... é um bom modo de pensar pra acalentar a perda... já passei por essa situação!!
nós aprendemos a conviver e a lidar com a perda.

bejs

Jeovane Ferreira Lima disse...

Me surpreendo ainda com sua capacidade de transformar um momento triste em uma poesia. Otimo texto...