sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Pequenas mentiras diárias



Quantas vezes você já fingiu estar bem apenas para não estender o assunto? Pra não ter que explicar exatamente o que está acontecendo ou está sentindo? Apenas para evitar perguntas insistentes?
Tenho sido um fiel adpeto dessas pequenas mentiras dirárias. Observo em mim mesmo que, a cada dia que passa, parece que me fecho ainda mais em minha própria redoma e permito que bem poucas pessoas realmente saibam como estou de verdade.
São essas poucas pessoas que perguntam "tudo bem?" querendo exatemente saber a resposta verdadeira a essa pergunta. Na maioria dos casos, essa pergunta é mera formalidade ou educação; independente da resposta.
Nos acostumamos a cumprimentar as pessoas com "oi, tudo bem?" já esperando o tradicional "tudo e você?". Já imaginou que estranho seria você passar pela tia do café no trabalho, perguntar "tudo bem?" e ela responder "não!" com um semblante triste? Seria um choque. Certamente você perguntaria o que aconteceu, ou qual o motivo dela não estar bem. Mas, você realmente quer saber esses motivos? Você teria tempo e paciência para ouvir o desabafo dessa pessoa?
Nós só deveríamos perguntar "tudo bem" se realmente estivéssemos dispostos a prestar atenção no "tudo" e, especialmente, estivéssemos preparados para o não e suas explicações, por mais longas que sejam. Talvez, seja apenas isso que essa pessoa precise: alguém que preste atenção nos seus "tudos".
Assim como eu, acredito que a maioria das pessoas ignora problemas, preocupações, receios e angústias diariamente, afirmando estar "tudo bem". Primeiro, porque as pessoas não são tão próximas ou íntimas ao ponto de abrirmos esse tipo de conversa. Segundo, porque é mais rápido, prático e evita maiores delongas. Por fim, temos certa dificuldade em assumir nossos próprios problemas ou, não queremos incomodar ninguém com nossas angústias.
Outra pequena mentira diária, talvez não tão frequente, é o "eu estava brincando". Por maldade, intencionalmente ou até mesmo por descuido, acabamos falando o que não deveríamos ou o que, de alguma forma, chateia a outra pessoa. Por receio de começar uma discussão ou termos que explicar a verdade, assumimos que era apenas uma brincadeira, quando na verdade nem era tão brincadeira assim.
Tem ainda aquela famosa "preciso ir agora". Confesso que essa é uma das que eu mais tenho usado ultimamente. Talvez em função da primeira aí em cima, tenho evitado encontros ou conversas mais aprofundadas e chega um dado momento em que eu prefiro me retirar, alegando algum compromisso. Na grande maioria dos casos, o meu "preciso ir agora" resulta em ficar na cama ouvindo música ou assistindo TV. É mais ou menos a mesma mentirinha para fugir de eventos indesejados, alegando outro compromisso na data. Assumo que acabei de fugir de um amigo secreto de final de ano por conta dessa mentirinha.
A lista dessas pequenas mentirinhas diárias certamente é bem mais longa e você poderia acrescentar outras tantas. Fato é que elas são capazes de resolver um momento ou, até mesmo, nos tirar de situações indesejáveis ou constrangedoras. Mas, elas não mudam a realidade, tampouco conseguem enganar a nós mesmos. Sabemos que em nosso íntimo as coisas não são exatamente como as palavras que proferimos. Já dizia o grande Renato Russo: "Mentir para si mesmo é sempre a pior mentira" (música Quase sem Querer).
Não prometo sinceridade nesse aspecto. Sei que continuarei dizendo "tudo bem", "estou brincando" ou "preciso ir agora", ainda que não seja verdade. Sei, também, que isso não me torna um ser humano totalmente desprezível ou abominável. Em alguns casos, fugir de uma conversa maçante é necessário, para o bem da minha saúde mental. Essas pequenas mentiras diárias não são prejudiciais aos meus relacionamentos com outras pessoas. Aliás, elas também contam as suas pequenas mentiras e, assim, a vida segue o seu ritmo.
Eu só espero que a partir de agora as pessoas que têm acesso a esse texto não questionem todas as vezes em que eu disser que tudo está bem; na maioria das vezes, realmente está. Na maioria das vezes, também, eu realmente estou brincando - é o meu jeito crianção e irreverente de ser, quase sempre inoportuno (faço brincadeiras na hora errada). Além disso, em alguns momentos, eu realmente tenho outros compromissos e preciso me ausentar. Ou não!

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