segunda-feira, 25 de maio de 2015

A gente se acostuma

A gente se acostuma com a distância. Se acostuma com a ausência e até com a saudade.
Não sei se isso é bom ou ruim, errado ou certo.
Mas a gente se acostuma até mesmo com a frieza e com a falta de educação.
É estranho, mas a gente se acostuma com respostas prontas e esquece de pensar, de refletir e de entender.
É fácil se acostumar. Difícil é encarar algo diferente, que desafie nosso comodismo.
A gente já se acostumou com ônibus lotado, trânsito lento, motoristas apressados cortando passagem.
Brasileiro já se acostumou até com a corrupção; sempre dá um jeitinho de levar vantagem, furar uma fila, comprar produto falsificado mais barato, não pedir ou emitir nota fiscal e até mesmo falsificar assinatura ou assinar pelo colega. Isso é normal, é parte da nossa rotina, todo mundo já fez ou ainda faz. A gente se acostumou.
Aliás, a gente se acostuma até com o café insuportavelmente doce no ambiente de trabalho.
Por incrível que pareça, até com a violência a gente já se acostumou. Quem ainda fala da menina Isabella Nardoni? Já se vão sete anos. E o garoto Bernardo Boldrini? Esse caso foi mais recente, 2014. Por mais que tenham nos comovido à sua época, a gente se acostuma e com o tempo esquece ou releva.
É cômodo se acostumar. É conveniente, talvez.
Eu poderia passar horas falando sobre tudo o que já estamos acostumados. Quem lê todas as condições de uso de um aplicativo ou programa baixado? Mesmo assim aceitamos e instalamos. Nos acostumamos, ainda, a pagar três reais por algo que custa dois e noventa e nove. Ou nos acostumamos a aceitar balinha de troco.
Triste, ainda, é perceber que a gente se acostuma com o fato de que, para nosso benefício, ou para atender aos nossos interesses, as regras podem ser mudadas, violadas, negligenciadas ou até mesmo ignoradas.
É parte da condição humana se acostumar. Alguns, mais otimistas, chamam de "capacidade de adaptação". Ok, fica mais bonito dizer dessa forma.
E, do alto do nosso comodismo, ou dessa capacidade de adaptação, a gente se acostuma a ver, apenas assistir, àqueles que não se adaptam ou não se acostumam fazendo história, "fazendo acontecer".
E assim, nos acostumamos a reclamar da segunda-feira, a resmungar a mesmice da nossa rotina chata. Nos acostumamos a esperar dias melhores, mas não nos lançamos a conquistá-los.
Sartre foi sábio ao perceber que "o pior mal é aquele ao qual nos acostumamos".
A vida é - ou deveria ser - intensa demais para nos acostumarmos à mesmice e a um único tom!

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